O advogado criminalista Silvio Vieira da Silva, de 54 anos, morto a tiros em maio deste ano em Fortaleza, foi morto por ordem de um chefe de facção, identificado como Breno Araújo Xavier, o “Blindado”, que quis se vingar de Silvio devido a atuação dele em um caso que terminou com o indiciamento de Breno por homicídio.
O crime aconteceu em 5 de maio, no bairro Genibaú, para o qual Silvio foi chamado sob o pretexto de receber uma quantia de R$ 4 mil referente a um pagamento. Ao chegar ao local combinado, porém, ele foi baleado pelos criminosos e morreu dentro do próprio
Informações iniciais apontam que a motivação do crime estaria relacionada ao fato de Silvio não ter conseguido a soltura de um integrante de facção criminosa. A investigação da Polícia Civil, no entanto, revelou um caso complexo de vingança, relacionado a um crime ocorrido em 2022.
Naquele ano, o personal trainer Felipe Lucena foi morto a tiros na saída de uma festa em uma barraca da Praia do Futuro. Ao longo das investigações, um das principais testemunhas do caso mudou o depoimento – mudança que ajudou a colocou nome de Breno Xavier, um dos chefes da facção Comando Vermelho (CV), como mandante do crime.
Em XX, o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou quatro pessoas pelo homicídio de Silvio. Uma delas é o advogado Lucas Arruda Rolim, de 33 anos, que trabalhava com a vítima. As investigações indicam que Lucas – já conhecido da Polícia por manter relações com o Comando Vermelho – teria ajudado Breno na execução do seu plano para matar o criminalista de 54 anos.
Entenda:
Trama planejada
Em abril deste ano, Francisco Carlos Barbosa, Francisco de Assis Silva e um adolescente foram capturados no terminal de ônibus do bairro Siqueira, quando se preparavam para assaltar um coletivo. Após a prisão, eles foram enviados para audiência de custódia.
Investigação de 2022 teria motivado crime
Em agosto de 2022, o personal trainer Felipe Lucena foi morto a tiros na saída de uma festa, já dentro do seu carro, na Praia do Futuro. Na mesma festa estava Breno Xavier, que conforme testemunhas, tinha uma rixa com Felipe.
De acordo com a investigação, no meio da festa Breno teria ordenado que dois homens, entre eles um identificado como Lucas Geová, viessem até a barraca de praia para matar Felipe. A dinâmica do crime foi descrita por uma testemunha que foi representada por Silvio Vieira.
O assassinato na barraca rendeu uma acusação de homicídio a Lucas Geová, como executor, e a Breno Xavier como mandante. Quando o processo começou a correr, Breno inclusive foi representado pelo advogado Lucas Rolim, que viria a trabalhar com Silvio.
Quase três anos depois, no momento da execução de Silvio, o relato de um dos criminosos é que as últimas palavras ditas por Silvio para Breno teriam sido “esquece, esquece”, no que o criminoso teria respondido: “Não dá para esquecer”, e atirou no criminalista.
Relação de advogados
O advogado Lucas Rolim, que atuava com Silvio e ajudou a atraí-lo para a emboscada, já possui antecedentes criminais por organização criminosa. Desde 2019, Lucas já havia preso ao menos duas vezes por suspeita de envolvimento com a facção criminosa de origem carioca Comando Vermelho.
Investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) apontaram na época que Lucas Rolim atuava na elaboração de planos de fuga para presidiários, tinha influência no tráfico de drogas e participava na logística delitiva da organização criminosa.
Antes disso, a polícia já havia apreendido na casa dele bilhetes que demonstraram que o advogado intermediava de forma frequente a comunicação entre membros da facção que estão presos e os que se encontram em liberdade.
Conforme a investigação, Silvio ajudou Lucas quando este foi preso com os bilhetes dos faccionados. O advogado mais velho teria representado o mais novo até que ele pudesse voltar a advogar. Quando foi autorizado a retomar seus trabalhos, Lucas passou a trabalhar com Silvio.
Prisões e denúncia
Ao longo das investigações, seis pessoas chegaram a ser presas pelo crime: Francisco Carlos Barbosa; Francisco de Assis; Pedro Guilherme Bandeira Lourenço, o “Lourim”, de 20 anos; Francisco Robert Teixeira de Mesquita, conhecido como “Itapajé”; e o advogado Lucas de Arruda Rolim.
Logo após o homicídio, Breno Xavier, o “Blindado”, foi para o Rio de Janeiro e está escondido em uma comunidade dominada pelo Comando Vermelho (CV). Há um mandado de prisão contra ele e o criminoso é considerado foragido.
Em agosto, o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou quatro destes seis presos pelo homicídio de Silvio Vieira. O órgão afirmou que o processo corre em segredo de justiça e não detalhou quais dos suspeitos presos, além do advogado Lucas Rolim, foram denunciados.
O órgão denunciou o quarteto pelos seguintes crimes:
- homicídio quadruplamente qualificado (por motivo torpe, com emprego de meio cruel, com uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e com utilização de arma de fogo de uso restrito),
- integrar organização criminosa armada
- furto qualificado
Conforme o órgão, o assassinato de Silvio “foi uma tentativa de intimidar profissionais que atuam legitimamente dentro do sistema de justiça criminal, conduta que viola as bases do próprio funcionamento das instituições e atividades essenciais à Justiça, prejudicando o livre exercício da advocacia privada e ferindo princípios básicos do Estado Democrático de Direito”.
G1CE
Adicionar Comentário